sexta-feira, 4 de abril de 2008

Fatuidade na Palavra

Ver-se livre da rotina e da percepção ordinária, ser-lhe permitido contemplar, por umas poucas horas em que a noção de tempo se esvai, os mundos exterior e interior, não como eles se mostram ao animal dominado pela idéia de sobrevivência ou ao ser humano obcecado por termo e idéias, mas tais como são percebidos pela Onisciência direta e incondicionalmente. Eis uma experiência de inestimável valor para qualquer indivíduo, especialmente para o intelectual, pois este é, por definição, o homem para quem, na frase de Goethe, "a palavra é essencialmente proveitosa". Ele é o homem para quem " o que percebemos pela visão nos é estranho e, pois, não nos deve impressionar profundamente". Embora fosse ele quem mais descordasse de sua própria conceituação de palavra. "Falamos demais. Deveríamos falar menos e desenhar mais." Eu, pessoalemente, gostaria de renunciar por completo à fala e, imitando a Natureza organizada, comunicar por esboços tudo o que tivesse a dizer: Aquela figueira, esta pequena serpente, o casulo aguardando serenamente o futuro no umbral de minha janela, tudo isso são importantes signos. Quem fosse capaz de decifrar corretamente seus significados poderia por inteiramente de lado tanto a palavra escrita quanto a falada. Quanto mais penso nisso, mais encontro futilidade e mediocridade. Jamais poderemos passar sem a palavra e os outros sistemas de símbolos, pois foi graças a eles, e somente por eles, que nos elevamos acima das bestas, atingindo o nível de sere humanos. mas poderemos facilmente nos tornar tanto vítimas como beneficiários desses sistemas. Precisamos aprender como manejar eficientemente as palavras mas, ao mesmo tempo, devemos preservar e, se necessário, intensificar nossa capacidade de olhar o mundo diretamente, e não através da lente semi-opaca das idéias, que distorce cada fato, diluindo-o no lugar-comum das denominações genéricas ou das abstrações explanatórias.

Um comentário:

jh.sil disse...

Belíssima escolha usar palavras do grande Huxley de "As portas da percepção". Esse trecho já fez parte do meu perfil um grande tempo; ele diz muito.

A única coisa que não concordo é com a renúncia às palavras. Não podemos viver apenas por imagens; isso porque sempre haverá uma mensagem subentendida por trás de qualquer símbolo que poderá ser expressada, unicamente, por meio das palavras.

Gostei muito daqui... voltarei!